Organ Trail é um jogo de sobrevivência com tema zumbi e gráficos retrô que parodia um jogo educacional antigo. Ele foi criado pelos Men Who Wear Many Hats como um jogo de navegador que te dá um score numérico ao final do jogo. Sua performance é medida pela quantidade de recursos que você adquiriu e a quantidade de personagens que ainda estão vivos na equipe, por exemplo. Atualmente o jogo existe em Facebook, Android e até 3DS, além de ter recebido diversas features novas desde o lançamento.
A Director’s Cut é a versão financiada pelo Kickstarter que traz mais algumas qualidades ao jogo base, como brigas com gangues de bandidos, chefões, conquistas/achievments, rankings online e o Endless Mode.
Sua origem em jogos clássicos de educação – O Oregon Trail
Oregon Trail é um jogo educacional desenvolvido em 1971 e distribuído para escolas pela MECC (Minnesota Educational Computing Consortium). Ele ensinava sobre as experiências dos emigrantes norte-americanos na Rota de Oregon, uma das rotas muito usadas no século 19 para encontrar novas oportunidades ou fugir de ameaças em sua terra natal – como a perseguição religiosa dos mórmons. A Rota de Oregon cobre 3200 km do Missouri até o Oregon e, caso fosse possível esticá-la, ela cobriria quase toda extensão mais larga do mapa dos Estados Unidos.
Ele começa te pedindo os nomes dos 5 personagens da sua caravana, escolhendo o mês da viagem, sua ocupação e a compra de suprimentos e animais para a viagem. Todas as escolhas influenciam as condições do seu jogo, e durante a trilha seus personagens estarão sob constante ameaça de exaustão, doenças, afogamentos, escassez de suprimentos e ferimentos mortais. Nas versões recentes do jogo é possível caçar usando o cursor do mouse como mira, controlando no teclado um personagem que atira em 8 direções. Chegando ao final da rota, é calculado um score para a sua performance.
Um despertar Impiedoso
Você já começa a aventura barricado contra uma horda de zumbis e deve aprender rapidamente a atirar: Clique num inimigo e arraste o mouse até você, então solte o mouse. Após uma breve (e bacana) narrativa de introdução, você nomeia seus companheiros e começa a gerenciar seus recursos, que são: Gasolina, comida, primeiros-socorros, munição, bateria, pneus e amortecedor.
Seu objetivo é sair de carro de Washington, que será bombardeada pelo governo em breve, e chegar em um santuário livre de zumbis e de bombas na outra ponta dos Estados Unidos.
A Estrada
Uma das interfaces principais é a visão da estrada, com os eventos randômicos que acometem você, seus companheiros ou o carro. Isso vai desde vocês encontrarem um local calmo e agradável para acampar por algumas horas, até seus parceiros terem cólera ou disenteria. Também é indicada ali a data, quantidade de zumbis (você não vai querer parar o carro para nada se a estrada tiver muitos zumbis, então é bom prestar atenção sempre neste fator), saúde geral dos passageiros, gasolina e outros dados que servem para te informar o paradeiro da viagem.
O ritmo da viagem também pode ser manipulado: Um carro que anda no limite da velocidade vai chegar mais rápido às cidades, mas gastar mais gasolina e se danificar mais rápido, além de aumentar a chance de acidentes. Comer porções de comida menores faz com que a equipe perca pontos de saúde mais rápido.
Você pode parar a qualquer momento da viagem para entrar no modo Scavenge e pegar mantimentos enquanto atira em zumbis por alguns minutos. A ideia de parar toda hora para pegar comidinhas do chão pode parecer super bacana de início, mas eu caí nessa tentação e percebi que não teria mais balas para fazer o resto da jornada, só comida pra caramba (que, infelizmente, não pode ser atirada nos zumbis.)
Dentre os eventos aleatórios que acontecem na estrada, temos:
- Dilemas morais
- Hordas de zumbis ou gangues de bandidos
- Lápides
- Encontro ou perda de itens aleatórios
- Ferimentos e doenças
- Problemas no carro
- Neblina
- Alguns elementos puramente narrativos (geralmente bem-humorados)
Todos estes eventos podem afetar sua saúde, dinheiro, itens e condição do carro – e, consequentemente, seu score no final do jogo.
As Cidades
Também há uma interface em cada cidade visitada voltada à conversa com outros sobreviventes, reparos e upgrades do carro, upgrades de combate, compra e troca de mantimentos e missões locais que envolvem matar zumbis ou enfrentar gangues locais, com npcs que atiram em você de janelas. Achei essas batalhas contra gangues um desafio bem bacana, e que exige paciência até você acertar todos os inimigos.
Os mini-games de pegar mantimentos são semelhantes ao modo scavenge, mas não possuem limite de tempo e terminam apenas quando você morrer ou chegar à caixa de suprimentos. A dica, então, é não se preocupar em atirar em todos os zumbis e apenas chegar à caixa o quanto antes.
Quanto às lojas e trocas, estas tem um preço, tipo e número de itens aleatório, além de um estoque limitado que jamais será reposto. Você pode, porém, vender itens infinitamente às cidades sem esgotar o dinheiro dela.
- Reparos de carro pedem scraps, encontradas nas missões de scavenge. Quanto mais scraps você usar por reparo, maior a chance dele dar certo.
- Upgrades para o carro são caros, e alguns dos benefícios tornar os pneus mais resistentes ou colocar discos de serras elétricas ao redor do automóvel.
- Treinamento de combate oferecem habilidades como uma chance de não consumir balas em combate, se mover e recarregar mais rápido, aumentar a quantidade de dinheiro encontrada no jogo ou carregar mais comida em missões de scavenging, entre outros benefícios.
Endless Mode
O Endless mode é semelhante à campanha normal, mas não tem uma cidade final e acaba apenas quando seus personagens morrerem, gerando um score numérico que julga o desempenho da sua partida. É possível deixar a partida Endless mais difícil com alguns modificadores adquiridos quando você acumular achievments especiais do modo Endless, chamados Skulls. Um exemplo de modificador é começar o jogo com menos vida do que o normal, ou com todos os jogadores já infectados por zumbis.
Personagens infectados virarão zumbis assim que morrerem, além de sofrerem uma chance pequena de se transformar ao dormir, e ativarão na hora um mini-game onde você deve matá-los ou levar uma mordida. Isso acontece em qualquer modo de jogo.
Gráficos, arte e interface visual
A arte fica limitada a uma reprodução fiel dos gráficos do Oregon Trail, e usa bastante espaço negativo, texto, e pixel art sem muitos detalhes. Eu gosto de jogos retrô e do resultado final do Organ, mas imagino como o jogo ficaria com gráficos (de pixel art mesmo!) mais detalhados e sem a preocupação de serem parecidos até no sombreamento com o estilo do Oregon Trail.
Sou uma ilustradora bem chata (e que vê pinturas digitais de diferentes níveis quase o dia todo), e as pinturas digitais que acompanham a série não me agradam muito. Elas mantém a simplicidade dos gráficos em pixel art e me passam um ar genérico incompatível com Organ Trail.
A interface sofre o mesmo problema que a arte: É navegável, mas segue ao limite a diagramação do Oregon Trail e acaba adicionando umas abas desnecessárias ao jogo. Mesmo assim, os botões são bem grandes e dão a sensação de que estamos emulando um jogo de celular no computador.
Trilha Sonora
O compositor é Ben Crossbones e todas as trilhas do jogo podem ser ouvidas no Bandcamp ou adquiridas po U$5. São músicas macabras e tensas carregadas de elementos chiptune ou 8-bits e fake-bit (quando aparelhos e instrumentos modernos simulam o som de máquinas antigas.) Achei a mistura de elementos agradável e recomendo para quem gosta de instrumentais atmosféricos mais melancólicos.
Vale a pena?
Sim! Ele tem um fator de replay (e roleplay!) altíssimo, principalmente para quem gosta de ver os amigos com doenças exóticas, virando zumbis ou sofrendo em geral.
Organ Trail tem vários pontos fortes: Além da referência histórica rica para quem for atrás de suas origens no Oregon Trail e de uma jogabilidade simples e viciante, com diversos mini-games que servem de respiro entre as sessões de gerenciamento de recursos, o jogo também dá uma boa lição de desenvolvimento de jogos, ao introduzir logo nos primeiros momentos de narração a maneira de atirar em zumbis e a urgência ou tensão de fazer isso imediatamente, tão logo o mini-game comece – coisas que não são exigidas em vão, pois serão exigidas novamente nos momentos finais de jogo. Achei que o começo tenso também me fez construir mentalmente uma atmosfera mais ameaçadora do jogo, cujos zumbizinhos pixelados e tortinhos não me intimidavam tanto de início.
Gosto bastante desses jogos cuja introdução serve de tutorial sem anunciar que é tutorial e constrói a atmosfera para o resto do jogo: Aproveitando a narrativa inicial para te explicar como jogar e te introduzindo às armas e obstáculos do jogo. Half-Life e Dead Space fazem isso bem, por exemplo.
Que Bicho é esse?
Organ Trail: Director’s Cut
Gênero: Sobrevivência zumbi com microgerenciamento de recursos e gráficos retrô
Desenvolvedor: The Men Who Wear Many Hats
Ano: 2011 (versão web)
Plataformas: Há versões do Organ Trail (além da Director’s Cut) disponíveis para Navegador, Facebook (aqui!), Android, iOS, Steam, eShop, PS Vita, Steam, PS4, Ouya… É tanta plataforma, que uma vez eu juro que estava mexendo numa calculadora e ela começou a rodar Organ Trail.
Organ Trail: Director's Cut
Prós
- Te imerge na atmosfera do jogo quase imediatamente
- Oferece diversas maneiras de gerenciar a equipe e mantimentos em cada partida
- Narrativa por vezes bem-humorada e cheia de referências a outros games e cultura popular em geral
Contras
- Os gráficos podem ficar cansativos depois de muitas partidas
- Ele segue ao limite o estilo visual de Oregon Trail. Acho que seria possível manter a referência ao jogo antigo sem ficar tão parecido com o mesmo.